Miosite e Rabdomiólise

Depois de um esforço físico, seu cavalo fica rígido de modo anormal na parte traseira, assume a posição como se fosse urinar e sua muito: é provável que seja rabdomiólise.

 

Depois de um esforço físico, seu cavalo fica rígido de modo anormal na parte traseira, assume a posição como se fosse urinar e sua muito: é provável que seja rabdomiólise.

Essa condição também é chamada de rabdomiólise, azotúria ou doença da segunda-feira. É uma inflamação dos músculos, onde os sinais clínicos são decorrentes da destruição de um grande número de células musculares, podendo aparecer durante ou logo após o trabalho. O passo diminui e o cavalo enrijece e se recusa a trabalhar ou até mesmo a andar. Os músculos que formam a traseira e o dorso são os mais afetados, o que explica a posição espasmódica incômoda que o cavalo adota para tentar aliviar a dor. Quando palpamos, esses músculos estão, com frequência, muito duros, além disso, o cavalo tem alta frequência cardíaca e respiratória devido à dor e os sinais, às vezes, podem se parecer com cólicas (cavalo deitado). Nos casos mais severos, quando o cavalo urina, a urina pode ter uma coloração marrom devido à presença de mioglobina, que está presente em grandes quantidades nas células musculares, e estas quando são destruídas, a mioglobina é liberada na corrente sanguínea e, então, eliminada pelos rins na urina.

A confirmação do diagnóstico é feita pela dosagem de enzimas musculares: creatinina kinase (CK) e aspartato aminotransferase (AST). Essas duas enzimas também estão presentes em grandes quantidades em células musculares e também são liberadas na corrente sanguínea quando as células musculares são destruídas. Sua dosagem no sangue possibilita a confirmação do diagnóstico e a avaliação da extensão da lesão: quanto maiores as concentrações de enzima muscular no sangue, maior o número de células musculares destruídas.

O tratamento deve ter início imediatamente para limitar as lesões, aliviar a dor e ajudar os rins a eliminar os resíduos tóxicos na corrente sanguínea sem serem afetados. Para isso, é necessário um veterinário. A primeira coisa a ser feita é colocar o cavalo em uma baia com cama grande e profunda e deixá-lo repousar. Não tente mover o cavalo!

Muitas vezes, uma perfusão é necessária: o veterinário insere um cateter intravenoso na veia jugular e administra diversos litros de fluido isotônico durante algumas horas para ajudar os rins a eliminarem os resíduos tóxicos, principalmente mioglobina, pois esta é uma molécula muito grande que pode causar lesões aos rins, quando passa por eles para eliminação. Se o cavalo não urinar depois da irrigação intravenosa, o veterinário pode administrar medicamentos para estimular a produção de urina.

O veterinário também pode administrar medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINE) para aliviar a dor. Contudo, os medicamentos AINE são tóxicos para os rins e para a função renal e, portanto, devem ser estreitamente monitorados.

Em casos mais benignos, o único tratamento necessário é repouso no estábulo por alguns dias e medicamentos AINE para aliviar a dor. Em casos mais severos, por outro lado, as lesões podem ser tão generalizadas que se tornam uma ameaça à vida. Uma complicação da miosite é a insuficiência renal decorrente da toxicidade da mioglobina para os rins. No entanto, se o cavalo receber tratamento imediatamente, o prognóstico é bom na maioria dos casos. O trabalho deve ser retomado gradativamente, e o cavalo deve ser submetido a dosagens de enzimas musculares regulares: em geral, é recomendado que os cavalos não sejam movidos até que os valores de CK estejam de volta ao normal.

A miosite é, com frequência, causada por um esforço que é muito intenso para o nível de treinamento do cavalo, quando o aquecimento não foi suficiente, quando o cavalo tiver retomado o trabalho depois de um período de repouso ou quando o cavalo tiver recebido comida demais para o tipo de atividade que faz. Alguns vírus respiratórios, incluindo vírus da herpes e gripe equina, podem aumentar o risco de miosite. De modo mais geral, um cavalo doente ou debilitado tem maior risco de miosite e não deve ser treinado. Alguns erros de alimentação também podem promover a miosite, tais como dar comida muito rica em carboidratos ou deficiente em antioxidantes (especialmente selênio e vitamina E) ou em eletrólitos.

Nesses casos conhecidos como esporádicos, o cavalo deve ser tratado, repousado e o erro, identificado para não ser repetido: exercícios regulares, alimentação adaptada à intensidade do trabalho, aquecimento progressivo e suficiente, adaptado às condições ambientais (especialmente à temperatura), progressão regular na intensidade do trabalho em cavalos jovens, repouso suficiente depois de uma infecção viral etc.

No entanto, se ocorrerem vários episódios de miosite, uma possível predisposição individual deve ser considerada.

As células musculares estocam energia como moléculas de glicogênio. O glicogênio é uma molécula grande feita de pequenas moléculas de glicose que as células musculares utilizam quando necessário durante os esforços. Em alguns cavalos, as células musculares produzem um glicogênio anormal que eles não conseguem usar quando precisam, o que desencadeia a miosite. Essa condição é chamada de miopatia de armazenamento de polissacarídeos (MAP) e afeta várias raças, incluindo cavalos quartos de milha, cavalo de tração, cavalos esportivos e puros-sangues. Sintomas associados ao MAP são variáveis dependendo da raça e da disciplina do cavalo, de rigidez no dorso no trabalho a episódios severos e repetidos de miosite.

O diagnóstico é feito mediante a identificação de glicogênio anormal nas células musculares ao observar uma amostra de músculo no microscópio depois de uma coloração específica. Estudos recentes revelaram que alguns cavalos com MAP apresentam uma mutação genética: uma enzima implicada no processo da síntese de glicogênio é anormal. É possível diagnosticar esses cavalos com um simples exame de DNA realizado em uma amostra de sangue ou em bulbos do pelo da crina. Contudo, nem todos os cavalos com MAP têm a mutação, e a biópsia do músculo continua necessária para o diagnóstico.

Outra doença muscular é descrita em Puros-Sangues e Standardbreds: rabdomiólise de esforço recorrente (RER). Cavalos que sofrem de RER estão propensos a episódios recorrentes de miosite, em especial potros jovens e nervosos em treinamento. Nessas condições, o problema se origina na regulação intracelular de cálcio, com o cálcio sendo um fator desencadeante para a contração muscular. Há fortes suspeitas de problemas genéticos, contudo, uma mutação genética precisa ainda não foi identificada.

Além das recomendações clássicas para evitar a miosite, é possível reduzir o risco de episódios em cavalos predispostos ao adaptar a alimentação: deve conter menos açúcar (carboidratos) e mais energia deve ser trazida pelos lipídios (gordura). Esse tipo de produto está disponível na maioria das marcas de alimentação de cavalos e é recomendado para cavalos com MAP (menos energia estocada em glicogênio) e cavalos com RER (o açúcar aumenta a excitabilidade e o nervosismo que são fatores contribuintes para a miosite).

Também é recomendado suplementar cavalos predispostos com vitamina E e selênio, dois antioxidantes que ajudam a proteger os músculos de danos oxidativos. Por fim, exercícios regulares são de primordial importância para esses cavalos.

Existem algumas outras causas (raras) para rabdomiólise que não estão ligadas a nenhum esforço. Por exemplo, em alguns cavalos com garrotilho, o sistema imunológico ataca as células musculares por engano. Isso desencadeia dor severa e grande destruição de células musculares.

Autor : DAUVILLIER Julie, Veterinária.

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